Hoje é uma dessas noites dedicada a um passado que, cada dia que passa, sinto mais longínquo; não porque o decidi esquecer, mas tão-somente porque a natureza humana nos prega destas partidas... de forma muito discreta vai apagando alguns detalhes da nossa infância... ainda lembro as manhãs ensopadas de leite e a vontade de que um relógio solar improvisado marcasse as 9h da manhã sem que víssemos um carro a chegar ao largo da escola, ainda lembro os velhos ciprestes e o poço de água que enfeitavam o recreio e que nos escondiam nalgumas das brincadeiras de infantes... não posso esquecer o almoço que nos chegava quente nas mãos da minha mãe e que nos era servido na casa da senhora clotilde, junto à lareira, nos dias de chuva e de neve... os serões de família a contar histórias de bruxarias e de milagres com brincadeiras que hoje já não existem nem se ouve falar... começam a esquecer-se nomes de pessoas, de lugares, datas que foram especiais... começo a esquecer-me do que fui nalgum momento... hoje, sou diferente... e passeio nas memórias embaciadas pelo passar do tempo... cruzo-me com pessoas que pensava que nunca envelheceriam e com as que desapareceram sem aviso prévio... esforço-me por alimentar cada uma dessas memórias, mas não consigo... vão desaparecendo...
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