Hoje é uma dessas noites dedicada a um passado que, cada dia que passa, sinto mais longínquo; não porque o decidi esquecer, mas tão-somente porque a natureza humana nos prega destas partidas... de forma muito discreta vai apagando alguns detalhes da nossa infância... ainda lembro as manhãs ensopadas de leite e a vontade de que um relógio solar improvisado marcasse as 9h da manhã sem que víssemos um carro a chegar ao largo da escola, ainda lembro os velhos ciprestes e o poço de água que enfeitavam o recreio e que nos escondiam nalgumas das brincadeiras de infantes... não posso esquecer o almoço que nos chegava quente nas mãos da minha mãe e que nos era servido na casa da senhora clotilde, junto à lareira, nos dias de chuva e de neve... os serões de família a contar histórias de bruxarias e de milagres com brincadeiras que hoje já não existem nem se ouve falar... começam a esquecer-se nomes de pessoas, de lugares, datas que foram especiais... começo a esquecer-me do que fui nalgum momento... hoje, sou diferente... e passeio nas memórias embaciadas pelo passar do tempo... cruzo-me com pessoas que pensava que nunca envelheceriam e com as que desapareceram sem aviso prévio... esforço-me por alimentar cada uma dessas memórias, mas não consigo... vão desaparecendo...
ema la'o dalan
«Não se considerava um turista; era sim um viajante. A diferença reside em parte no tempo, explicava. Enquanto o turista geralmente está com pressa de voltar a casa ao fim de algumas semanas ou meses, o viajante, não pertencendo mais a um lugar do que a outro, move-se lentamente, ao longo dos anos, de um lugar da terra para outro.» (Paul Bowles, O céu que nos protege)
quinta-feira, 17 de março de 2011
sexta-feira, 11 de março de 2011
sábado, 29 de janeiro de 2011
Sou numa nova cidade
Deixo que todos se deitem... É nessa hora que a cidade se veste em silêncio e que, entretanto, se deixa apreciar sem que me olhe como um estrangeiro.
domingo, 29 de agosto de 2010
histórias de amor entre princesas e ogres
Há criaturas que, de tão perfeitas que são, plantam o medo no coração do mais comum dos mortais.
Podia ser uma história de fadas, o cenário podia ser um castelo medieval e cada uma das personagens usar vestes rendilhadas de cetins e sedas, podia até ser um bairro da baixa lisboeta ou até de uma metrópole como nova iorque. Não creio que o espaço físico seja tão importante assim, nesta história é apenas como um laçarote num presente, uma cor associada a um espaço: o cinzento seria um castelo, o amarelo seria a praça do chiado e o vermelho descorado podia ser perfeitamente um bairro qualquer nova iorquino. Mas o leitor pode escolher outra cor ou outro espaço. Eu escolheria o azul e um lugar como Maliana, plantado no sopé de uma montanha e a flutuar sobre os arrozais mais verdes de Timor-Leste. As personagens serão duas apenas: um rapaz e uma rapariga. Ele estudou fora desde os seus 15 anos, mas decidiu regressar à cidade que o embalou e ela tropeçou nos olhos dele numa tarde outonal, quando decidiram que era a altura apropriada para visitar um centro de arte contemporânea que abrira para comemorar os 10 anos de um país cujo parto fora doloroso e demorado. Nessa tarde houve apenas olhares envergonhados, cada um aproveitando a distracção do outro para se admirarem mutuamente. O resto da história foi cantada pelo Paião:
"Foram juntos outro dia, como por magia, no autocarro, em pé. Ele lá lhe disse, a medo: "O meu nome é Pedro e o teu qual é?" Ela corou um pouquinho e respondeu baixinho: "Sou a Cinderela". Quando a noite o envolveu, ele adormeceu e sonhou com ela..." Mas o que ninguém sabe é o verdadeiro final da história. Há mil versões. O Carlos Paião decidiu inspirar-se num conto de fadas e cantou uma ode ao amor: Pedro e Cinderela viveram promessas de amor que puderam concretizar. Mas, na verdade, o final poderia ter sido outro: o desencontro ou, como alguém lhe quis chamar, o encontro acidental... cada qual se perdeu do outro, amando-se em segredo...
sábado, 28 de agosto de 2010
Na hora do adeus...
Foram mil os poemas dedicados às despedidas, foram outros mil que gravaram momentos que as partes quiseram conservar em cada um dos corações. Houve sempre lágrimas e lamentações, malas esquecidas de tão grandes que eram e agora foram lembradas para levar metade de tudo o que aqui viveram, o mais que puderam. A outra metade das lembranças há-de ficar com os que ainda não quiseram que fosse a hora de partir. Esses hão-de chegar a suas casas e fechar a sete chaves a mala grande das partidas, fazê-la segredo para adormecer essa dor que nos fica quando perdemos de vista alguém ou quando não queremos lembrar-nos que amanhã seremos os que partimos. E a cada partida de alguém havemos de sentir-nos mais pequenos, mingaremos em tamanho, deviremos quase o tom sawyer que via partir do porto o titânico navio que atravessaria o mississipi para qualquer outro lado que ele só podia imaginar. E nós imaginamos também... os momentos felizes a haver e o passado que nos fez sentir que deste lado também tínhamos uma família, que deste lado também éramos amados como irmãos pródigos... que as amizades que aqui construímos resistirão aos mais de 15 000 kms que nos separarão doravante.
Aos que partiram, boa viagem...
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Torpes sentidos, vagos...
Tudo me é estranho nos primeiros dias! Os meus olhos desabituaram-se de tudo o que me rodeia: as luzes, as sombras... os ouvidos entorpeceram. Habituados a reboliços diários, a civilizações barulhentas, esqueceram-se do que é o silêncio deste lado e estranham o som que sai da boca destas gentes! Estranho, estranho. É o que sinto e é o que sou, agora.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
A melhor pizza do mundo...
Às vezes esgoto-me a pensar no que hei-de preparar para o almoço ou mesmo no restaurante que me há-de ver sentar à mesa! Ontem não foi um desses dias, definitivamente. Creio que já devo ter acordado com a decisão escondida mesmo ali por trás do cerebelo! Meti-me no meu Jr e fiz-me ao caminho: rumei em direcção à praia da areia branca e quando avistei o Morabeza, imediatamente antes, encontrei o Caz Bar... Não sou o único a pensar que é aqui que se come a melhor pizza «vegetária», talvez algum dos meus leitores se anime (e me convide) a ir até lá... Feito o pedido, decidi sentar-me na praia e, como um bom português, fiz-me acompanhar de uma mini... poucas pessoas andavam por lá, alguns locais e um casal asiático que decidiu gastar ali a tarde, como eu: ele a brincar com uma garrafa bintang na areia, ela a comer pistachios. Eis que chega o meu manjar... e tudo se confirma, cada vez que vou para aqueles lados é sempre para comer a melhor pizza do mundo!
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